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Guararapes concentrará produção no RN e vai fomentar o Pró-Sertão

A boa logística de produção existente no Rio Grande do Norte é foco dos investimentos do Grupo Guararapes no Estado em 2023, que se prepara para centralizar a produção fabril em solo potiguar, com estimativa de gerar cerca de 2 mil empregos diretos e indiretos na própria unidade, em Extremoz, e também nas facções têxteis do interior que integram o Pró-Sertão. A decisão estratégica deve permitir, de início, a abertura de 200 novos postos de trabalho, com incremento da produção na lavanderia da unidade. Já para as facções, a estimativa é crescer até 30% com o reforço na produção, de acordo com a Associação Seridoense de Confecções (Asconf).

“Em um primeiro momento, a lavanderia ganhará um aumento de produção, em virtude da demanda da lavagem do que é produzido no Pró-Sertão na unidade de Natal. Inicialmente, são de cerca de 200 contratações que nós estamos agregando. É o primeiro setor onde estaremos aumentando o quadro [de colaboradores]”, confirma o diretor executivo industrial da Guararapes, Jairo Amorim. Nesta terça-feira (10), o Grupo anunciou o encerramento das atividades da única fábrica ativa em Fortaleza (CE) e a centralização da produção no Rio Grande do Norte.

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“A decisão de concentrar as operações no Rio Grande do Norte está ligada, exclusivamente, ao fato de dar maior competitividade à atividade industrial. Do ponto de vista logístico, o Grupo tem fortes investimentos no Estado, com lojas, contact center, shopping, teatro e centro de distribuição. Por isso, é possível ganhar mais velocidade e competitividade”, explica Jairo Amorim. Com o encerramento da unidade no Ceará, cerca de 2 mil funcionários foram desligados.

Segundo Jairo Amorim, parte dos trabalhadores deve ser transferida para o RN. “Foram todos convidados para Natal. Alguns aceitaram e serão transferidos, mas a gente ainda não tem o número exato. O desligamento, de início, está em torno de 1,8 mil pessoas. Há outras cerca de 200 que irão trabalhar na mudança de maquinários e outras atividades”, detalha o diretor executivo industrial do Grupo. A Guararapes informou que, para aos trabalhadores que optaram pelo desligamento, foram oferecidos extensão do plano de saúde pelo dobro do aviso prévio e o valor de meio piso salarial. As máquinas de costura industrial foram doadas às costureiras e aos demais, foi fornecido um adicional de mais um salário.

Jairo Amorim disse que ainda é cedo para falar em estimativas de aumento de produção no RN, algo que, aponta, será melhor avaliado mediante a procura do mercado. “Tudo depende muito do poder de compra e da procura dos clientes. Somos uma empresa formada pelo sucesso da integração indústria-varejo, puxada pela demanda. E a gente está pronto para reagir a essas demandas, sejam elas altas ou dentro do previsto”, pontua Amorim.

As mudanças anunciadas pela Guararapes animaram a Associação Seridoense de Confecções (Asconf), que projeta aumento da geração de emprego e renda. De acordo com a presidente da Asconf, Marionete Medeiros, a perspectiva é que a geração de empregos nas facções têxteis – que é como são chamadas as oficinas de costura do Pró-Sertão – ganhe impulso com o aumento da produção no Estado.

“Nós acreditamos em um fortalecimento do nosso setor, com incremento de empregos, porque nossa oficinas estão aptas a receber mais produção. A expectativa é de aumentar algo em torno de 20% a 30% a geração de vagas de trabalho, mas, claro, só teremos uma projeção mais exata a partir do repasse solicitado às oficinas de costura. Contudo, a expectativa é positiva no geral”, comemora Marionete Medeiros.

O que é o Pró-Sertão

O Programa de Interiorização da Indústria Têxtil (Pró-Sertão) foi criado em 2013, na gestão do então secretário estadual de desenvolvimento econômico, o atual senador Rogério Marinho (PL), com o objetivo de formar um tripé entre facções de costura, empresas-âncoras e instituições como o Sebrae e o Senai. A ideia era possibilitar o diálogo e a capacitação da mão de obra e dos empresários para manter o modelo das pequenas fábricas.

O Banco do Nordeste garantiu a abertura de linhas de crédito para a compra do maquinário e investimentos necessários à expansão das facções existentes e criação de novas, a fim de permitir que as empresas atendessem à demanda enviada pelas empresas-âncoras – em especial a Hering, RM Nor (que fabrica peças para a Renner e a C&A) e a Guararapes, que a partir daí passou a atuar com mais força no Estado.

A gestão do projeto ficou a cargo do Sebrae. A capacitação e a adequação às normas ambientais e trabalhistas foram o primeiro passo do processo. Em 2021, o programa ganhou uma nova fase, com a previsão de capacitação de mais pessoas (em 2022, foram capacitadas 150, segundo o Sebrae). As formações devem continuar em 2023, com prioridade para o treinamento voltado ao uso de materiais como viscosa, malha, tecidos leves e lycra, além da inserção do bordado. Apesar do hiato entre a primeira e a segunda fase, o programa manteve um processo de requalificação constante.

Atualmente, o Pró-Sertão conta com 116 oficinas de costura (em 2020 78), gera 3.219 empregos diretos (em 2020 eram 2.262) e está presente em 32 cidades potiguares (em 2020 eram 28). Em 2022, o programa injetou mais de R$ de 52 milhões na economia potiguar. Os dados são da Sedec e do Sebrae. Todas as confecções dispõem do selo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), uma estratégia do Sebrae para garantir o crescimento sustentável da atividade têxtil no País. A ausência de trabalho infantil, o cumprimento das legislações trabalhista e ambiental, além de adoção de práticas sustentáveis, são fatores observados pela Associação para a concessão do selo.

Decisão é mérito do Proedi e do Pró-sertão, afirma Sedec

O anúncio feito pelo Grupo Guararapes de centralizar investimentos no Rio Grande do Norte foi bem recebido pelo Governo do Estado. Para o titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Jaime Calado, a decisão da Guararapes reflete o mérito da nova política econômica do RN. “O Rio Grande do Norte não se alegra em ver o Ceará perder empregos, mas se alegra em ganhar postos de trabalho, e isso é consequência da nova política de incentivos fiscais implementados na gestão da governadora Fátima Bezerra, que garante vantagens para as empresas se firmarem aqui”, avaliou o titular da Sedec.

Segundo a Sedec, além dos benefícios do Programa de Estímulo ao Desenvolvimento Econômico do RN (Proedi), pesa a experiência positiva da unidade potiguar da Guararapes com o Pró-Sertão, cuja relação de beneficiamento mútuo junto às oficinas de costura do interior é cada vez mais estreita. Jairo Amorim, diretor executivo industrial, destaca o sucesso do programa. “O Pró-Sertão está em pleno processo de formação e as oficinas de costura se mostraram bastante pujantes, face não só à competitividade do que é produzido, como também da transformação social nas regiões onde elas estão”, frisa.

Zeca Melo, superintendente do Sebrae-RN, ressalta os impactos positivos do programa e comenta quais os desafios para este ano. “A gente luta sempre pela inclusão de novos players para diversificar o número de empresas contratantes, ampliar o leque de serviços e evoluir no sentido de entregar peças próprias e não apenas fazer a costura. Temos uma expectativa grande de implantar um projeto de modernização das rotinas, dos processos, uma espécie de indústria 4.0 para as oficinas de costura”, explica.

O diretor regional do Senai do Rio Grande do Norte, Rodrigo Mello, comenta sobre a criação do Projeto Circuito da Qualidade, lançado em agosto passado com o Sebrae-RN e o Instituto Riachuelo (controlado pela Guararapes) e que se soma aos esforços de melhorar a produtividade do Pró-Sertão. “Na prática, o Sebrae e o Instituto estão investindo um total de R$ 1 milhão para que as oficinas de costura que compõem o Programa tenham acesso a consultorias técnicas gratuitas do Senai, para a entrega de peças de vestuário cada vez melhor acabadas”, detalhou Rodrigo Mello.

Segundo ele, as atividades do projeto devem ocorrer até o final deste ano. “Isso abre caminhos para a evolução do Pró-Sertão, uma vez que estimula melhorias de qualidade na produção que sai das pequenas oficinas de costura nos municípios do interior direto para as grandes indústrias”, completou o diretor regional do Senai.

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